Representatividade das pessoas negras no mercado consumidor

Representatividade das pessoas negras no mercado consumidor

A população autodeclarada preta ou parda é maioria no Brasil, mas esse dado não reflete a sua representatividade no mercado consumidor. Falamos sobre o assunto no artigo. Acompanhe!

Compondo mais da metade da população, as pessoas negras ainda enfrentam grandes desafios sociais, sendo um deles a falta de representatividade no mercado de consumo. A tímida presença de pessoas pretas e pardas em posição de poder é refletida nas ainda poucas opções de produtos que atendem às suas necessidades, bem como a reprodução de estereótipos raciais em publicidades, que corroboram com o racismo estrutural no país.

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Vamos falar sobre esses desafios, conhecer alguns dados sobre a participação de pessoas negras no mercado de consumo e sobre as reivindicações por mais representatividade nos espaços de tomada de decisão, como forma de reflexão para encontrar soluções para os problemas apontados. Continue a leitura.

Quais são os desafios do Brasil em relação ao racismo? 

A questão racial no Brasil é um assunto complexo. Embora a maior parte da população se declare preta ou parda (55,8%, segundo o Pnad Contínua de 2022), a estrutura social do país impõe diversos desafios à população negra, sobretudo às pessoas em situação de vulnerabilidade social. 

Em pauta nas redes sociais e veículos de comunicação nos últimos anos, o racismo estrutural é identificado como um problema sistêmico no Brasil, ou seja, está presente e é normalizado nas dinâmicas do dia a dia, nas práticas adotadas pelas instituições, na falta de representatividade da população nos espaços de poder, na forma de ação das forças de segurança pública e na cultura. Um sintoma dessa realidade é a existência do mito da democracia racial, presente nos discursos, inclusive, de autoridades públicas.

Os dados estatísticos confrontam o mito da democracia racial. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, negros compunham 75% da parcela mais pobre da população brasileira. Em relação aos salários, pessoas pretas ou pardas recebiam apenas 57% da remuneração percebida por pessoas brancas. Os negros também são maioria entre os desempregados, como mostra pesquisa feita no último trimestre de 2022. 11,3% das pessoas sem trabalho formal eram pretas, 10,1% eram pardas e 6,8%, brancas.

A população negra também está mais suscetível à violência policial e a erros de softwares de identificação de procurados pela justiça. Em 2021, 65% das vítimas fatais de operações policiais no Brasil eram pessoas negras. Um levantamento feito pela Rede de Observatório da Segurança, em 2019, verificou que 90% dos presos por reconhecimento facial eram negros. 

Em relação à educação, embora o índice tenha melhorado ao longo dos anos, principalmente com as políticas públicas de assistência à população, ainda hoje, 71,7% dos jovens com idades entre 14 e 29 anos que abandonam os estudos e não completam a educação básica são negros. A justificativa mais frequente é a necessidade de trabalhar para ajudar no sustento da família.

São muitos os desafios do Brasil no combate ao racismo estrutural e na mudança do cenário que desfavorece a maior parte da sua população, mas há perspectivas de melhorias, tendo em vista os avanços conquistados nos últimos anos e o crescimento do nível de conscientização dos brasileiros sobre a questão racial.

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Qual é a relação entre consumo e população negra? 

Justamente por ser uma discussão em pauta nas rodas de conversa, nas políticas públicas e na atuação dos movimentos sociais, o mercado tem estado mais atento às reivindicações relacionadas às questões raciais. O apoio à diversidade e o reconhecimento da importância do combate ao racismo estão no discurso de diversas empresas atualmente. Já é possível ver nas prateleiras produtos pensados exclusivamente para atender às necessidades de pessoas negras, ainda que timidamente, e quase que exclusivamente em algumas áreas específicas.

O “Relatório Pessoas Negras no Brasil”, estudo realizado pela Opinion Box em parceria com o Movimento Black Money, que ouviu 2.113 pessoas, mostra que mais da metade dos entrevistados preferem comprar de empresas que apoiam a diversidade racial. 52% dos participantes negros afirmam que já boicotaram empresas envolvidas em escândalos relacionados a casos de racismo.

A pesquisa ainda mostra que 54% das pessoas pretas e pardas consomem produtos ou serviços que valorizem a cultura negra, como a produção de pequenos empreendedores, atividades culturais com representatividade negra e eventos com temática étnico-racial. 

Outro estudo, o “Afroconsumo: O protagonismo preto no consumo brasileiro”, publicado pela Nielsen, mostra que 67,6% da população negra fez compras na internet no final de 2022. Entre os itens adquiridos, os principais são produtos de higiene, moda e beleza, esse último sendo a preferência de 62% dos entrevistados. 

Apesar de vermos um crescimento significativo da quantidade de produtos direcionados aos consumidores negros, a pesquisa aponta que 1 a cada 4 pessoas acredita ser difícil encontrar itens voltados para a comunidade e as suas necessidades. É apontada também a baixa oferta de opções relacionadas a saúde e educação para pessoas pretas e pardas, quando comparada com as ofertas no ramo da beleza.

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Como a falta de pessoas negras em lugares estratégicos no mercado de trabalho afeta as relações de consumo? 

Mesmo compondo a maior parte da população, a representatividade das pessoas negras em cargos estratégicos nas empresas ainda é irrisória. Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Ethos, em 2016, identificou que apenas 4,7% dos cargos executivos das 500 maiores empresas brasileiras eram ocupados por pessoas pretas ou pardas.

Essa falta de representatividade se estende para os cargos criativos nos setores de marketing e publicidade. Em 2015, de acordo com a pesquisa “A presença dos negros nas agências de publicidade”, apenas 0,74% dos executivos dessa área não eram brancos. 

O cenário vem melhorando nos últimos anos, com programas de contratação de pessoas negras, e com o surgimento de empresas criadas por pessoas pretas para pessoas pretas. Mas ainda está muito longe de ser o ideal. A baixa representatividade de pessoas negras nos espaços de tomada de decisão ainda reflete a falta de proporcionalidade entre os números populacionais no país e os rostos mostrados nas campanhas publicitárias. 

Também é baixa a oferta de produtos que atendam às especificidades dessa população, e que extrapolem a área da beleza. Afinal de contas, existem outras necessidades básicas, que seriam facilmente identificadas e apontadas por pessoas negras com voz para opinar e espaço para criar.

Outro problema muito comum é o reforço de estereótipos sociais em produtos midiáticos. Mesmo com o avanço das discussões raciais, ainda hoje produzem propagandas, personagens e anúncios que contribuem com o agravamento dos efeitos do racismo estrutural. Faltam pessoas com letramento racial nos setores de criação e tomada de decisão.

As relações de consumo, nesse sentido, tendem a ser prejudicadas. Ao mesmo tempo, faltam produtos pensados para esse público específico e a publicidade não gera reconhecimento e conexão do espectador com a marca ou produto, aspectos importantes na tomada da decisão pela compra. 

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Quais são os principais problemas enfrentados pela população negra no mercado de consumo? 

Para ilustrar a dificuldade do mercado de atender às necessidades dos consumidores negros, pode-se tomar alguns produtos como exemplo. Os famosos curativos Band-Aid, da Johnson & Johnson, existem desde 1920, sempre produzidos com uma mesma cor, desconsiderando a diversidade dos tons de pele nos mercados em que atua, incluindo o Brasil. 

Só em 2020, no seu aniversário de 100 anos, foi lançada uma linha mais diversa nesse sentido. Ainda assim, eles não são tão fáceis de encontrar nos estabelecimentos comerciais, e muitas marcas concorrentes ainda não aderiram à prática de diversificar a tonalidade dos curativos.

Outro exemplo, é a modalidade de produtos que viu o seu público crescer vertiginosamente com o surgimento das redes sociais e da profissão blogueira: as maquiagens. Por muito tempo, pessoas pretas e pardas não encontravam no mercado opções adequadas para o seu tom de pele.

Esse cenário mudou, mas não o bastante. Além das marcas tradicionais, surgiram muitas outras, seguindo a tendência de criação de linhas de maquiagem em parceria entre laboratórios e influenciadores digitais. No entanto, as paletas são limitadas e a maioria não desenvolve opções para pessoas com a pele retinta. São poucas as marcas que oferecem uma paleta de cores mais completa e adequada para a diversidade racial brasileira.

Da mesma forma, faltam no mercado brasileiro produtos e serviços que dialoguem com os valores e raízes de pessoas negras. E com isso, perde-se também oportunidades de estabelecer relações de consumo. Uma pesquisa da McKinsey, de 2022, que leva em conta o mercado internacional, aponta que os consumidores negros estão dispostos a pagar até 20% a mais pelos produtos e serviços que atendam às suas necessidades. Ela também projeta um crescimento no poder de compra de pessoas negras, passando de US$910 bilhões para US$1,7 trilhão, em 2030.

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O que os consumidores negros querem do mercado? 

Os consumidores negros querem que o mercado evolua em termo de diversidade e representatividade. As empresas precisam enxergar as pessoas negras como consumidores que são e escutar as suas reivindicações em termos de produtos, serviços e publicidade. É preciso levar em conta as suas necessidades para além dos avanços que já foram conquistados, e que estão muito longe do ideal.

E a forma de fazer isso é avançando no desenvolvimento de políticas e ações que visem aumentar a representatividade das pessoas negras nas empresas. É preciso ir além das iniciativas de contratação dessa parcela da população nas posições de entrada, e aumentar o número de pessoas negras em posições estratégicas nas organizações, ocupando postos de criação, inovação e de tomada de decisão.

Não são mais aceitáveis erros que corroborem com o racismo estrutural, ou representar a população brasileira como se ela não fosse de maioria negra. Também não tem como estabelecer produtos sem entender as demandas dos seus consumidores. Essas transformações se darão com a presença de pessoas negras nas empresas.

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Seja um consumidor consciente dos seus direitos

Vimos no artigo que os consumidores precisam de representatividade nos espaços de poder, nas propagandas e na disposição de produtos que atendam aos seus anseios de consumo. Eles também precisam que os seus direitos sejam respeitados, sem que haja quaisquer prejuízos. Para isso, existe o Código de Defesa do Consumidor e você precisa conhecê-lo para saber como agir quando for necessário.

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