Tendência gourmand: conheça a moda que une sentidos como olfato e paladar
Misturar cheiros com sabores ficou tão popular que ganhou até nome: tendência gourmand; entenda o que é e veja exemplos
Lip balm sabor Fini, shampoo com cheiro de Bubbaloo, linha de esmalte em colaboração com Doritos. Você com certeza já viu por aí alguma mistura diferentona entre alimentos e cosméticos. A junção dessas duas áreas, pensada em criar produtos que estimulam cheiros, sensações e, em alguns casos, até mesmo sabores, está em alta atualmente e costuma conquistar o público nas redes sociais.
A moda virou tão grande que já ganhou até nome: tendência gourmand. A palavra vem do francês gourmandise, que se refere à gula, o desejo de comer alimentos ricos e saborosos. E, apesar de estar em alta nas redes sociais, ela já existe há algum tempo, como o caso de perfumes que usam e abusam de aromas doces, como balas.
A diferença da vez, além da facilidade de viralização nas redes sociais, é que esses produtos estão de fato investindo nos sabores, como é o caso da junção da Fini com Carmed, fazendo com que os batons não só tenham o cheiro das balas, mas como um gosto parecido com elas.
Além disso, o que tem tornado esses produtos tão populares é a junção de duas marcas. Marcelo Boschi, coordenador do Master em Marketing Estratégico da ESPM explica que essa mistura tem nome: co-branding.
“A ideia não é nova e, basicamente, consiste integrar marcas diferentes, de espaços diferentes, buscando, nessas integrações, atrair novos públicos”, aponta. “Ao juntar duas marcas diferentes, acabamos formando uma interseção entre elas, ampliando os públicos”.
Ele reforça que essa estratégia pode ser muito benéfica para as duas marcas, mas precisa ser bem pensada, para fazer sentido para ambas e, de fato, chegar em um público diferente. “Marcas que estão no mesmo negócio, com o mesmo público, não devem usar essa estratégia”, aconselha.
Unindo forças para viralizar
Como explicado pelo professor, a ideia de unir marcas para atingir um público maior não é nova, mas podemos dizer que ela está atingindo um novo patamar com as redes sociais.
Um bom exemplo é o caso da colaboração entre Fini e Carmed. Com a escolha certa das influenciadoras que falaram sobre o produto, ele logo viralizou nas redes sociais, criando a ideia de desejo e necessidade em comprá-lo. Foi questão de tempo, inclusive, para que os produtos se esgotassem nas prateleiras.
Não à toa, as marcas decidiram continuar com a parceria e criaram diversos sabores e cheiros diferentes para o produto, um para cada bala aclamada pelo público.
Uma estratégia parecida foi utilizada pela O Boticário, que se uniu à Bubbaloo para criar uma linha com cheiro do chiclete. Dessa vez, além da junção das marcas, a campanha gerou um efeito de nostalgia em boa parte das crianças dos anos 2000, que costumavam consumir o chiclete, atingindo, assim, públicos de idades diferentes.
“Apesar de parecido, os casos são diferentes. No caso da collab entre Fini e Carmed, estamos falando de uma marca que está se construindo, já que farmacêuticas no geral costumam ser mais ocultas. Já no caso da O Boticário com a Bubbaloo, estamos falando de duas marcas muito conhecidas, mas com públicos diferentes. Mas, em suma, a ideia é sempre essa: somar públicos diferentes, multiplicando e potencializando ambas.
Além do gourmand: misturando sentidos
Muito além da colaboração entre duas marcas, nesses casos conseguimos ver também uma mistura de sentidos, atrelando cheiros e até mesmo sabores para um produto. Marcelo Boschi explica que essa tentativa das marcas de misturarem sentidos também tem nome: marketing sensorial.
“Essa é uma ideia estruturada no século XXI, devido ao certo esgotamento das fórmulas tradicionais de marketing. Ela visa explorar os sentidos de maneira holística, ou seja, ampliar a percepção das marcas para além dos esforços tradicionais”, conta.
Ele explica que a ideia de marketing sensorial veio com autores ligados à antropologia do consumo e a neurociência. Em um dado momento, esses autores perceberam que a visão e a audição estavam sendo muito enfatizadas “O século XX foi dominado pela visão e a audição. É só a gente pensar no cinema, nas leituras e, posteriormente, no rádio e televisão. Era sempre visão e audição, permanentemente”, relembra.
Com o avanço das tecnologias, aos poucos foi surgindo a necessidade de pensar também nos outros sentidos. E, muito além dos meios de comunicação, como os cinemas 5D, por exemplo, a tendência entrou no mundo das marcas.
“Começamos a pensar em colaborações de comércio que mexem com sabor, cheiro e textura. Existe hoje uma crescente potencialização dos outros sentidos humanos na construção de experiências, o que aumenta também as interfaces das marcas com seus consumidores”, completa.
Não à toa, produtos como os citados nesta reportagem conseguem atingir um público tão amplo, dentro e fora das redes sociais. Ao unir marcas e sentidos diferentes, a tendência é, quando bem pensada, criar uma fórmula de sucesso para as vendas.