A reciclabilidade no Brasil – uma responsabilidade dividida

A reciclabilidade no Brasil – uma responsabilidade dividida

Pesquisa em nove países sobre reciclabilidade de embalagens mostra que o consumidor encontra dificuldade para aderir à prática sustentável por falta de infraestrutura e informação

Não há dúvida de que o uso de embalagens facilita o dia a dia do consumidor. Assim como é inegável o impacto que provocam no meio ambiente, quando não descartadas corretamente. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, no Brasil, um quinto do lixo é composto por embalagens, que, quando não recicladas, causam problemas como a poluição de oceanos e a morte de animais, que ingerem detritos tóxicos. A reciclabilidade é uma estratégia fundamental para a preservação da natureza.

Diariamente, chegam 25 mil toneladas de embalagens aos aterros sanitários no país. E é preciso que encontre uma infraestrutura para a reciclabilidade desse item. Ano passado, neste período, publicamos a pesquisa realizada, por nove membros da Consumers International, organização da qual a PROTESTE é também associada. Mesmo assim, resolvemos trazer novamente o tema no mês de comemoração do  Dia Internacional do Meio Ambiente – já que o cenário não mudou muito. As transformações exigem tempo para ação de políticas públicas e de mercado, e os dados ainda permanecem preocupantes no Brasil, que mantém a média 3% de reciclabilidade.

De acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2021, publicado pela Associação Brasileiras das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), no ano passado, o Brasil produziu 82,5 milhões toneladas de resíduos. E além do parco reaproveitamento, os números mostram que a geração desses resíduos sólidos urbanos (RSU) nos domicílios brasileiros cresceu cerca de 4%, com uma média de 1,07 kg/hab/dia.

Para Thiago Porto, especialista da PROTESTE, o cenário é consequência de uma conjunção de fatores. “Falta um sistema eficiente de reciclagem coordenado pelos governos, as empresas falham e muitos consumidores ainda não adotaram a prática sustentável. Enfim, é problema e responsabilidade de toda a sociedade”, alerta.

A pesquisa – o Brasil e o mundo

No estudo, foi avaliada a reciclabilidade de embalagens de 11 produtos em nove países – Brasil, Índia, Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia, Portugal, França, Malásia e China (Hong Kong). Em cada um, foram analisados três aspectos: a reciclabilidade dos invólucros, que leva em consideração a parte do material que é reciclável (expressa em percentual do peso); as informações nos rótulos; e a reciclabilidade na prática, que engloba o sistema de coleta, a triagem e a reciclagem de fato. “Consideramos ainda o comportamento dos consumidores, revisamos os compromissos já assumidos pelas empresas em relação a embalagens sustentáveis e entramos em contato com elas, após o fim da pesquisa”, relembra Thiago.

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Rótulos são confusos

O resultado da análise foi diferente em cada país, mas, no geral, os consumidores encontram dificuldade para reciclar, embora estejam motivados a fazê-lo – 65% deles, inclusive, afirmam que estão dispostos a pagar mais por produtos sustentáveis. No entanto, algumas barreiras existem, e a rotulagem é uma delas. “A maioria dos rótulos não fornece orientações sobre a reciclabilidade e o descarte da embalagem, o que impede que o consumidor faça escolhas sustentáveis”, observa o especialista. A prova é que todos os produtos da amostra apresentaram rótulos confusos ou pouco claros, nos nove países. Em Portugal, por exemplo, a embalagem do confeito de amendoim com chocolate M&M (Mars) é 100% reciclável, mas a etiqueta orienta a jogá-la no lixo convencional. Vale destacar, no entanto, que o país recicla 56,3% de suas embalagens e estudos apontam que 84% dos consumidores separam os seus resíduos. “Ou seja, o desempenho é bom, mas a rotulagem está impedindo que os portugueses desfrutem do sistema de reciclagem”, pontua Thiago.

Brasil tem a pior taxa de reciclagem

Nos nove países, também foi observado que, em média, 35% do peso de todas embalagens da amostra não são facilmente recicláveis na prática. Nesse critério, a batata frita Pringles (Kellog’s), o chocolate Kit Kat (Nestlé) e o M&M foram os produtos menos recicláveis (veja abaixo os produtos que participaram da pesquisa). “Muitas vezes, apesar de ser reciclável e o consumidor separá-lo do lixo comum, a infraestrutura da região não permite que a reciclagem seja feita de fato. Ou porque não existe coleta seletiva ou não há logística para levar o material até as empresas de reciclagem”, explica Thiago.

Essas particularidades influenciam diretamente nas taxas de reciclagem de cada local. Assim, Hong Kong consegue reciclar na prática 93% do peso das embalagens dos 11 produtos analisados, enquanto o Brasil, apenas 8%. “No geral, o nosso país tem o pior desempenho, reciclando apenas 3,85% de seus resíduos sólidos. A Austrália, por
exemplo, chega a 58%. Mas, aqui, 17,8 milhões de pessoas não têm sequer coleta de lixo comum em casa. Além disso, na prática, só conseguimos reciclar o alumínio, e graças aos catadores”, observa Thiago.

Empresas estão atentas

Embora o cenário, no geral, deixe a desejar, as oito empresas que produzem os produtos testados já assumiram compromissos voluntários para que os itens sejam mais sustentáveis. Ao terem conhecimento dos resultados da pesquisa, Kellog’s, Mars, Grupo Ferrero (creme de avelã com cacau Nutella), Coca-Cola e Kraft Heinz (ketchup de pimenta Tomato) e Unilever (sabonete líquido Dove) responderam que estão trabalhando para aumentar a reciclabilidade das embalagens.

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Pesquisa realizada entre fevereiro e março de 2021

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