Pagamento por aproximação: saiba como evitar cair em golpes

Pagamento por aproximação: saiba como evitar cair em golpes

Entenda os detalhes por trás dessa modalidade de pagamento que veio para ficar

Se você usa cartões de crédito, débito e até PIX, com certeza já ouviu falar no pagamento por aproximação, ou ‘contactless’. A modalidade chegou ao Brasil em 2008, contudo, foi na pandemia da Covid-19, em 2020, que o formato se popularizou. Isso porque, em meio a um cenário que impossibilitava o contato físico entre as pessoas, uma forma de pagamento e consumo que exigia apenas a aproximação do cartão físico e/ou dispositivo móvel de um terminal de pagamento facilitou a preservação da saúde.

Porém, para além da praticidade, os pagamentos por aproximação trouxeram alertas à população — principalmente com relação a fraudes e golpes com quem utiliza a modalidade.

Pensando nisso, a Proteste conversou com o professor e pesquisador Ian Vilar Bastos, docente no Programa de Pós Graduação em Eletrônica (PEL) e professor Adjunto do Departamento de Eletrônica e Telecomunicações (DETEL) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com pesquisas e estudos focados em temas de segurança e aprendizado de máquinas, para entender mais sobre esse formato de pagamento e quais sãos os possíveis riscos que apresenta.

O que é o pagamento por aproximação?

O pagamento por aproximação é uma modalidade de pagamento que permite concluir uma transação aproximando um cartão ou dispositivo móvel de um terminal de pagamento. Para isso, o recurso utiliza a tecnologia NFC (Near Field Communication), que pode estar inserida tanto em chips de cartões físicos, quanto em smartphones e dispositivos vestíveis (smartwatches).

“O NFC é um conjunto de padrões que estabelecem um protocolo para a comunicação baseada em proximidade entre dispositivos eletrônicos, como celulares, tablets, computadores pessoais e dispositivos vestíveis”, explica Ian. “Um dispositivo eletrônico que possua a tecnologia NFC é capaz de se comunicar com uma maquininha que já possua o serviço de pagamento por aproximação para cartões. Nesse sentido, a transação entre o dispositivo eletrônico e a maquininha ocorre através do uso de uma aplicação que atua como uma carteira digital e possui o cartão do consumidor registrado. O processamento da transação entre o dispositivo eletrônico e a maquininha ocorre da mesma maneira que a transação por aproximação utilizando o cartão”.

Em fevereiro deste ano, o Governo Federal inaugurou o PIX por aproximação que, por via de regra, funciona sob as mesmas bases: “As principais instituições financeiras e de pagamento deverão possibilitar que seus clientes vinculem suas contas em carteiras digitais que ofereçam o recurso para pagamentos utilizando o Pix. Nesse modelo de operação, as carteiras digitais devem atuar como iniciadoras de transação de pagamento autorizadas pelo Banco Central. Uma vez vinculada a conta à uma carteira, para fazer pagamentos basta que o cliente peça para pagar com Pix, aproxime o celular do dispositivo do recebedor (por exemplo, uma maquininha), confira os dados da transação na tela do celular e confirme”, destaca o site oficial do Governo Federal.

O Pix por aproximação também demanda a existência da tecnologia NFC — que, neste caso, atua no dispositivo móvel em que a conta bancária do consumidor está logada e estabelece uma conexão direta com o aparelho receptor do pagamento. 

O pagamento por aproximação está disponível para cartões de crédito, débito e Pix. Esta modalidade vem ganhando cada vez mais destaque no mercado, pois pode ser feita sem a necessidade do consumidor estar portando o cartão do banco, enquanto que os pagamentos tradicionais necessitam do cartão físico — conforme destaca Ian:

“A transação com o pagamento por aproximação ocorre mais rapidamente em relação a transação por pagamento tradicional. Na maioria dos casos, não há a necessidade de inserir uma senha. O pagamento por aproximação inclui uma camada extra de segurança pelo uso da tokenização que não está presente no pagamento tradicional por chip e inclui diversas camadas extras de segurança em relação ao pagamento por tarja magnética, onde há a transmissão de informações do cartão que não são criptografadas”.

Quais são os riscos do pagamento por aproximação?

Segundo Ian, os riscos do pagamento por aproximação estão diretamente relacionados a roubos e furtos dos cartões físicos que atuam por aproximação:

“Diferentemente da carteira digital, que exige uma autenticação biométrica, o cartão físico não exige uma autenticação do consumidor para ser utilizado. No entanto, diversos sistemas exigem o uso da senha quando muitas transações de pagamento por aproximação ocorrem em um curto período de tempo ou quando o valor da transação é muito alto. Além disso, a maioria dos sistemas de cartões notificam o consumidor sobre suas compras em tempo-real e permitem que o pagamento por aproximação seja desativado remotamente”.

Para além desse cenário, existem também os casos de hacking ou skimming presentes não só no pagamento com cartões físicos, mas também nos pagamentos por aproximação. Neles, os criminosos roubam informações cadastradas no banco da vítima por meio de pagamentos por aproximação. 

No caso de skimming, o golpe é realizado por meio da instalação de dispositivos de leitura de cartão em caixas eletrônicos. A partir disso, os golpistas conseguem acesso a informações para realizar clonagens de cartão. 

Já os casos de hacking para pagamentos por aproximação é realizado da seguinte maneira: os criminosos hackeiam a maquininha do cartão, que subitamente para de aceitar pagamentos por aproximação e exige que os consumidores insiram o cartão no dispositivo, roubando assim dados do titular da conta.

Os golpes do Pix — que podem ser aplicados também por pagamentos via aproximação — estão cada vez mais frequentes. O mais recente, alertado pelo Banco Central, é aquele no qual os criminosos transferem um valor para a conta da vítima “por engano”, e entram em contato com ela para que o dinheiro seja devolvido — não para a mesma conta que depositou o valor, mas sim para uma nova. 

A partir daí, os criminosos utilizam o Mecanismo Especial de Devolução (MED), uma ferramenta desenvolvida pelo Banco Central, para solicitar o estorno em casos de fraude. Dessa forma, o banco reembolsa o valor ao golpista, enquanto a vítima, que já havia transferido o dinheiro para outra pessoa, acaba ficando no prejuízo. 

O Banco Central alerta que apenas nos dois primeiros meses de 2025 foram feitas 719.853 solicitações de devolução por meio do MED. Dessas, 289.789 foram aceitas total ou parcialmente, somando R$ 30,7 milhões devolvidos — e não dá para saber se todo esse dinheiro foi destinado somente para casos reais de fraude que exigiram estorno. Por causa disso, de acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o procedimento correto em caso de erro é utilizar a funcionalidade de devolução disponível no próprio aplicativo bancário, assegurando que o valor seja retornado diretamente à conta de origem do Pix inicial.

Apesar dos riscos iminentes, Ian defende o pagamento por aproximação — que se popularizou no mercado não só pela praticidade, mas também pela segurança envolvida em seu processo e que muitas vezes pode ser desconhecida pelo consumidor médio.

“O pagamento por aproximação emprega todas as tecnologias de segurança que são utilizadas pelo método de pagamento tradicional por chip, que substitui o pagamento tradicional por tarja magnética, e ainda inclui o método de tokenização para preservar o número do banco durante a transação”, destaca o professor. “A principal vulnerabilidade no pagamento por aproximação encontra-se no uso indevido do cartão em caso de perda, furto ou roubo”.

Pessoa usando celular para pagar por aproximação

Entenda como se proteger de golpes em pagamentos por aproximação (Foto: Freepik)

Como se proteger de golpes em pagamentos por aproximação?

 “Algumas boas práticas podem fornecer uma sensação de segurança ainda maior para os consumidores”, explica Ian. “O uso de carteiras digitais que oferecem autenticação por biometria; habilitar a notificação de transações do cartão em tempo-real; especificar os limites para transações diárias com o pagamento por aproximação e valor máximo de transação sem o uso da senha. Além disso, não permitir que terceiros realizem a aproximação do cartão para fazer o pagamento; relatar imediatamente a perda ou roubo do cartão para que eventuais compras que possam ocorrer sejam reembolsadas pelo banco”.

Além disso, se você optar pelo pagamento com cartão físico, é possível se proteger de golpes via skimming ou hacking. Para isso, basta redobrar algumas atenções na hora de realizar o seu pagamento:

  • Antes de inserir o cartão na maquininha, certifique-se de que ela parece legítima e não foi alterada. Fique atento a sinais de manipulação, como partes soltas ou desalinhadas;
  • Ao digitar a senha, use a mão ou o corpo para cobrir o teclado, prevenindo que o número seja visto por outras pessoas;
  • Jamais revele seu PIN (senha do cartão) a ninguém, nem mesmo se solicitado pelo operador da maquininha;
  • Sempre confira o recibo após uma transação com o cartão para garantir que o valor cobrado esteja correto.

Além dos consumidores, comerciantes também podem se proteger contra golpes em pagamentos por aproximação. “Um ponto a se pensar seria a instalação de câmeras próximas ao ponto de pagamento para que esses usos indevidos possam ser mais facilmente identificados. Além disso, para instituições financeiras, o uso de sistemas de detecção de fraudes em tempo-real baseados em aprendizado de máquina que considerem padrões de geolocalização e de consumo. Também pode-se considerar o uso de biometria facial para autenticar uma transação por aproximação que seja identificada como uma anomalia nos padrões do consumidor”.

Fui vítima de um golpe de pagamento por aproximação, e agora?

Caso você tenha perdido o seu cartão físico, e ele tenha sido utilizado para compras pagas por aproximação, você deve:

  1. Bloquear o seu cartão. Assim que você perceber que o seu cartão foi perdido, bloqueie. Esta medida também deve ser tomada caso você perceba movimentações suspeitas na conta bancária, mesmo com o seu cartão físico em mãos;
  2. Verificar o seu extrato bancário e/ou notificações de transações. Certifique-se de quais compras foram realizadas por você e quais são compras estranhas;
  3. Entre em contato com o banco e a operadora de cartão. Informe sobre as transações não autorizadas e solicite a contestação. Geralmente, os bancos têm prazos específicos para contestação, então, é importante agir rapidamente. Guarde todos os detalhes da conversa e qualquer número de protocolo fornecido;
  4. Solicite o estorno e/ou reembolso do valor gasto. O banco, após a análise da contestação, pode processar o reembolso ou estorno para sua conta;
  5. Registre um boletim de ocorrência. Também é recomendável registrar um BO. Esse documento pode ser solicitado pelo banco para prosseguir com a investigação ou para formalizar a contestação;
  6. Verifique a possibilidade de uso do Mecanismo Especial de Devolução (MED). Se o pagamento foi realizado por aproximação e o valor foi cobrado indevidamente, você pode se beneficiar do Mecanismo Especial de Devolução (MED), oferecido pelo Banco Central. Isso permite que você solicite o estorno diretamente ao banco, especialmente em casos de fraude.

Essas mesmas medidas são válidas para pagamentos indevidos por aproximação via smartphones e smartwatches. Caso você seja vítima de golpe do Pix, você pode:

  1. Bloquear o seu aplicativo do banco: Se você ainda tiver acesso ao seu aplicativo de banco, bloqueie imediatamente o acesso à sua conta, alterando senhas e realizando a autenticação de segurança. Alguns bancos permitem bloquear transações de Pix temporariamente. Verifique se essa opção está disponível para você;
  2. Entre em contato com o banco ou instituição financeira: Comunique imediatamente seu banco ou a instituição financeira onde você possui conta sobre o ocorrido. Informe que você foi vítima de um golpe e que realizou uma transação Pix fraudulenta. Solicite o bloqueio do Pix e o auxílio para a devolução do valor, se possível. A maioria dos bancos tem canais de atendimento específicos para fraudes e pode orientar você sobre os próximos passos;
  3. Registre um boletim de ocorrência: Dentro dele, forneça todos os detalhes sobre o golpe, como informações da transação (data, valor, chave Pix envolvida) e qualquer comunicação que tenha recebido do golpistas;
  4. Registre a chave Pix envolvida: Caso você tenha recebido a chave Pix do golpista, anote todos os detalhes da transação, como a chave usada, e envie essa informação ao banco para ajudar nas investigações;
  5. Altere suas senhas e medidas de segurança: Após resolver o problema da transação fraudulenta, altere suas senhas bancárias, de e-mail e de outras contas importantes. Considere também adicionar camadas extras de segurança, como autenticação de dois fatores (2FA), para proteger suas contas contra novos ataques.