O que é ‘Taxa Rosa’? Entenda como essa prática afeta o seu bolso
Saiba por que essa prática de mercado deve ser combatida e qual é a relação dela com a igualdade de gênero tão defendida no Dia Internacional das Mulheres
Imagine que você vai ao supermercado, a farmácia ou até a uma loja de roupas e descobre que os itens que você precisa podem custar muito mais do que itens destinados a outras pessoas, mesmo que eles sejam praticamente iguais. Esse cenário pode parecer absurdo, mas é real: trata-se da chamada ‘Pink Tax’ — em português, Taxa Rosa — muitas vezes presente em produtos voltados para o público feminino, mas que exercem a mesma função de seus exemplares masculinos.
O termo surgiu nos anos 90 nos Estados Unidos, quando começou a se observar essa tendência no mercado de produtos femininos, quase sempre destacados por sua coloração rosa, e tendo em sua maioria o preço elevado justificado por essa personalização. Neste Dia das Mulheres, entenda a importância de se conscientizar sobre o tema e como ele pode impactar a vida das consumidoras do mundo todo.
Como funciona a Taxa Rosa?
É importante destacar que a Taxa Rosa não se refere a uma taxação legal: o termo fala somente do aumento de preço dos produtos destinados ao público feminino — não levando em conta produtos exclusivamente voltados para as mulheres, como absorventes e pílulas anticoncepcionais, por exemplo. Contudo, sua área de atuação é bastante diversa, e pode atingir desde produtos de higiene à roupas; chegando até mesmo nos brinquedos.
Uma pesquisa realizada pelo PROCON de Juiz de Fora destacou alguns exemplares de produtos similares com um preço bastante elevado quando voltado para o público feminino. É o caso, por exemplo, de um medicamento para dores de estômago — quando rotulado como ‘feminino’, o produto chega a custar R$ 28; enquanto o seu exemplar tradicional fica na média dos R$ 20. Vale destacar que ambas as formulações referem-se ao ibuprofeno, e atuam no organismo da mesma maneira.
Isso não é tudo: o mesmo estudo constatou essa discrepância de preços em cremes depilatórios (custando R$ 52,79 no produto feminino e R$ 45,59 no masculino) e shampoos anti-quedas (custando R$ 66, 49 no produto feminino e R$ 64,23 no masculino). Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) constatou ainda que 28% dos produtos possuem a Taxa Rosa — com exemplares femininos mais caros que os tradicionais.
Não existe no Brasil uma lei que proíba a incidência das ‘Pink Tax’ em produtos. No entanto, desde 2023, existem diretrizes de proteção e defesa das consumidoras despachadas pela Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon).
Por que combater a Taxa Rosa?
O mês da mulher é um período de importantes debates a respeito da condição de gênero no mundo. A Taxa Rosa é resultado de uma desigualdade proeminente que ainda não enxerga nuances de melhora. De acordo com um estudo realizado pela pesquisadora Laísa Ratcher, com base no censo de 1970 a 2010 em conjunto com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, de 2020, as mulheres ganham ao menos 19% menos que os homens. Essa discrepância pode chegar a 30% em cargos estratégicos.
Neste quadro, a realidade na qual essas mesmas mulheres são obrigadas a consumir produtos mais caros torna ainda menor seu poder de compra e, muitas vezes, de emancipação do gênero.
De acordo com Clotilde Perez, professora titular de semiótica e diretora da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP, a Taxa Rosa vai além dos valores monetários. A medida também explora a desigualdade de gênero em sua multiplicidade:
“Trata-se de um oportunismo de mercado que reforça estereótipos, uma vez que aumenta as despesas de consumo das mulheres (ou para as mulheres e reitera a máxima de ‘feminino dispendioso’”. E ainda completa:
“As mulheres não podem ser punidas por exercerem uma feminilidade por meio da cultura material de consumo — não comprar produtos femininos não é uma opção razoável, tão pouco sem gênero. Tem efeitos práticos, mas ainda existem mulheres que desejam produtos ‘mais femininos’”.
Veja dicas para fugir da Taxa Rosa
Estar consciente das implicações da ‘Taxa Rosa’ para a vida econômica das mulheres é o primeiro de muitos passos rumo a uma realidade mais igual e justa. Para fugir dessa discrepância financeira sem abrir mão dos produtos de qualidade, é possível seguir algumas dicas:
- Na hora de escolher o produto, sempre verifique se o mesmo exemplar voltado para o público masculino está mais barato. Compare o rótulo dos dois, as propriedades, e conclua qual é a melhor opção para você. Em alguns casos, pode valer a pena abrir mão da embalagem rosa pela economia;
- Preste atenção nas publicidades voltadas para o público feminino. Por vezes elas enaltecem que seus produtos são cuidadosamente pensados para mulheres e, por causa disso, ganham destaque. Conheça o produto a fundo e entenda suas verdadeiras nuances;
- Não é necessário comprar de uma marca só porque ela é voltada para o público feminino
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Você pode participar dessa ação e colaborar com essa conquista – acesse o site jareparou.com.br, assine e garanta esse direito. Essa vitória, entre outras coisas, amplia a aquisição de peças e manuais, reduzindo o custo de consertos para o consumidor e incentivando a sustentabilidade.