Fábrica de marca famosa de creatina é interditada e polícia aponta motivo
A vigilância sanitária já havia notificado a empresa por conta de irregularidades
Uma empresa contratada pela Soldiers Nutrition foi interditada pela polícia em Jundiaí, no interior de São Paulo. A empresa de Yuri Silveira de Abreu e Fabiula de Arruda Freire, autoproclamados como “rei e rainha da creatina”, tem um dos suplementos alimentares mais utilizados no país.
De acordo com informações do Fantástico, a fábrica que atuava de forma terceirizada não tinha licença para a produção de suplementos alimentares. “As instalações e os equipamentos não tinham condições higiênicas e sanitárias satisfatórias”, segundo apontou a polícia. A empresa tem uma fábrica própria, fundada a partir do investimento de R$ 15 milhões, mas também contrata outras para atender suas demandas de vendas.
A substância que gerou problemas foi a creatina, que é um suplemento atuante como fonte de energia para os músculos. Seu consumo acontece de maneira concentrada para aumentar a força e o ganho de massa muscular. “É um dos suplementos com maior número de evidências quanto à eficácia e segurança de ser ingerido”, diz a nutricionista Annete Marum.
Grupo de mensagens
De acordo com o Fantástico, em um grupo de mensagens os líderes da Soldiers Nutrition conversavam sobre um dos potes de creatina que a empresa produziu. O suplemento estava empedrado – sua forma original é em pó – e nem marteladas o quebravam. “(o produto) é da China, né?”, ironizou o gerente de produção durante as conversas.
Entretanto, essa aparência empedrada é um indício de má qualidade do produto, segundo Marcelo Bella, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Produtos Nutricionais (Abenutri). Neste mesmo grupo, outras duas reclamações apareceram na conversa. Um cliente alegou ter achado uma larva no pote de creatina e o outro afirmou que havia fios semelhantes a uma teia de aranha.
Anteriormente, em outubro, a sede do grupo foi alvo de um mandado de busca e apreensão. Os agentes da vigilância sanitária encontraram irregularidades, como “produtos impróprios para venda e consumo” e a ausência de “dispositivos de proteção contra a entrada de pragas”.
No mesmo mês da busca e apreensão, a Abenutri pediu testes de laboratório para avaliar 88 marcas de creatina que atuam no Brasil. A avaliação tinha a intenção de conferir a quantidade da substância em cada suplemento. Isso porque a lei determinou que estes produtos precisam ter, no mínimo, 80% de creatina pura.
No teste, dezoito marcas reprovaram – dez delas não tinham creatina em sua composição. Em contrapartida, a amostra da Soldiers Nutrition recebeu aprovação do laboratório. Além da creatina, outro suplemento também foi alvo de reclamações dos clientes: o Whey Protein. Um afirmou que encontrou plástico na embalagem do produto, já outro apontou que viu um pedaço de borracha semelhante a uma luva ou uma bexiga.
Investigações
Além dos suplementos, a Soldiers também sofre investigações por possíveis manobras financeiras. Supostas fraudes fiscais para sonegação de impostos e lavagem de dinheiro são investigadas. De acordo com Yuri Silveira de Abreu, a empresa faturou R$ 150 milhões em 2023. Já a projeção de 2024 chega a R$ 250 milhões, segundo Abreu.
A defesa da Soldiers Nutrition apontou que a “investigação policial utilizou algumas reclamações infundadas”. Além disso, que os “produtos apreendidos nos estabelecimentos de terceiros não passaram por perícia”, e que “não existe laudo que questione a qualidade dos seus suplementos”.
Os advogados da empresa também alegaram que “empresários, funcionários e colaboradores foram injustamente prejudicados pela investigação”. Além disso, a Soldiers Nutrition também afirmou que a creatina empedrada não foi comercializada.