Como economizar energia? Veja dicas práticas
Mudanças de estação e de temperaturas podem salgar a conta de energia; saiba como economizar luz em casa sem abrir mão do conforto térmico
A energia elétrica é responsável por diversos aspectos da vida doméstica: cozinhar, tomar banho, lavar roupas, usar internet e até mesmo se refrescar. Por causa disso, períodos do ano marcados por amplitude térmica se caracterizam também por aumentar o gasto de energia.
Um relatório da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) mostrou, por exemplo, que o primeiro trimestre de 2024 — correspondente aos primeiros dias de verão — teve um aumento de consumo de energia: de 68.993 megawatts (MW) médios para 72.4116 MW médios. Neste ano, a estação apresentou ao menos cinco recordes de demanda de energia no verão, segundo informações do Operador Nacional do Sistema Elétrico. O país chegou a atingir a marca histórica de 105.475 MW.
Apesar das temperaturas elevadas que marcam o verão — e, junto dele, um aumento no gasto de energia — o outono não poupará menos a população. O calor não deve arrefecer como no ano passado que, nos primeiros seis meses (três deles marcados pelo outono), teve uma demanda por energia elétrica que cresceu 6,8% em relação a 2023, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Afinal, quais são as melhores maneiras de economizar energia? Segundo o professor José Aquiles, engenheiro elétrico e professor da Escola Politécnica da USP, os gastos de energia podem aumentar em momentos que demandam maior energia térmica:
“Nos períodos mais frios aumenta o consumo para aquecimento dos ambientes e de água quente, e nos períodos quentes aumentam os gastos com conforto ambiental — como ventiladores e sistema de ar-condicionado”, explica José. À Proteste, o professor deu dicas sobre consumo de energia elétrica e as melhores maneiras de economizar nessa parte do orçamento.
Índice:
A conta de luz está mais cara?
De acordo com previsão realizada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), as contas de luz por todo o país devem ficar ao menos 3,5% mais caras neste ano. A previsão foi divulgada na última segunda-feira, 7 de abril, e está abaixo do que era inicialmente esperado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — que chegou a fazer uma projeção de 5,6% de aumento em 2025.
A diminuição dessa estimativa de aumento refere-se a dois fatores:
- O bônus da Itaipu: este é o crédito na conta de luz concedido aos consumidores brasileiros em razão de uma mudança no modelo de financiamento da dívida da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Neste ano, um saldo positivo de R$ 1,3 bilhão nas contas da usina foi revertido em benefício do Brasil, ajudando a reduzir as contas de luz de cerca de 78 milhões de residências que consomem até 350 kWh por mês;
- Bandeira verde: De janeiro a abril deste ano, as contas de luz seguem sob a bandeira verde, sinalizando que os reservatórios das hidrelétricas estão em níveis satisfatórios e, por isso, não há necessidade de cobrança adicional para conter o consumo de energia.
Antes de entender a melhor maneira de economizar na conta de luz, é preciso entender como essa conta fecha e as principais diferenças entre as tarifas aplicadas nela. Te explicamos tudo isso abaixo:
O que são as ‘bandeiras’ na conta de luz?
À Proteste, o professor José Aquiles, engenheiro elétrico e professor da Escola Politécnica da USP explicou que as contas de luz no Brasil são compostas de alguns fatores:
- Custo de geração: O valor total da energia consumida, desde a produção até o uso final;
- Custo de transmissão: Os gastos com o transporte da eletricidade até as distribuidoras;
- Custo de distribuição: O percentual da fatura que é destinado à distribuidora;
- Encargos setoriais: Os custos criados por leis aprovadas pelo Congresso Nacional para viabilizar políticas públicas do setor elétrico;
- Tributos: Valores destinados ao poder público, como o PIS e a COFINS.
“A relação entre gasto de energia e o aumento da conta é direto devido às tarifas praticadas, por isso as ações de redução do consumo têm impacto direto no bolso das pessoas”, explica José. “O que mais gasta energia acaba tendo a maior participação na composição da conta. Daí a ideia de reduzir o uso de elementos de maior consumo de energia para economizar”.
Nesse cenário, as bandeiras são um mecanismo de ajuste mensal, criado para sinalizar os custos extras de geração de energia no país. Elas não substituem as tarifas normais (das modalidades), mas acrescentam um valor extra na conta, quando necessário — por exemplo, em casos de pouco abastecimento dos reservatórios de energia (bandeira vermelha); ou em casos de um reservatório de energia abastecido (bandeira verde).
“As bandeiras são acionadas quando o nível de reservatórios das hidrelétricas está baixo. Então, para preservar a água nos reservatórios, eles acionam as usinas térmicas, que utilizam basicamente gás natural, o que torna o custo da geração de energia elétrica mais caro”, explica José. “A partir disso, eles repassam este custo para todas as contas de energia”.
Além delas, existem ainda as modalidades tarifárias, que são modelos de cobrança definidos pela ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) que estabelecem como a tarifa será calculada de acordo com o perfil de consumo do consumidor. Elas podem variar de acordo com horário de uso da energia e pela demanda contratada, e se dividem em Grupo A (alta tensão), que inclui indústrias, grandes comércios, shopping centers, hospitais, entre outros consumidores de grande porte, e Grupo B (baixa tensão), que inclui a maioria dos consumidores residenciais, pequenos comércios, áreas rurais, etc.
Saiba como economizar na conta de luz (Foto: Freepik)
Quem tem direito a pagar mais barato na conta de luz?
Para além das maneiras convencionais de economia de energia, José relembra das medidas governamentais para reduzir esse gasto para a população de baixa renda: a chamada Tarifa Social de Energia Elétrica (TSEE). Segundo informações do Governo Federal, tem direito a essa compensação:
- Famílias inscritas no Cadastro Único (CadÚnico);
- Famílias que tenham entre seus membros alguém que seja beneficiário do Benefício de Prestação Continuada (BPC);
- Famílias indígenas ou quilombolas inscritas no CadÚnico.
O desconto da TSEE é dado para cada família beneficiária de acordo com o consumo mensal, que pode variar de 10% a 65%. A variação desse percentual acontece da seguinte maneira: um consumo mensal de 101 KWh a 220 KWh ganha 10%; um consumo de 31 KWh a 100 KWh ganha até 40% e um consumo de até 30 KWh ganha 65% de desconto.
Quais são as melhores maneiras de economizar energia?
Segundo José, diminuir o tempo e a intensidade com que aparelhos ficam ligados — especialmente para quem passa o dia sozinho em casa — pode ser a chave para uma conta de luz mais barata e menos gasto de energia.
“Por exemplo, a redução de tempo de banho ou mudança no tipo de aquecimento do chuveiro (trocando chuveiros elétricos para chuveiros a gás ou com aquecimento)”, explica. “Além disso, existem ações com necessidade de investimento, nas quais se pode pagar com a economia gerada pela redução de energia. É o caso de trocar equipamentos antigos, por novos e mais eficientes; ou ainda trocar a fonte de energia — por exemplo energia solar térmica para aquecer água para banho”.
Para além desses tópicos, o professor e engenheiro destaca que a escolha de equipamentos mais eficientes auxilia não só na economia do seu bolso, mas também do planeta Terra:
“A economia de energia tem impacto direto no orçamento doméstico mas também na cadeia energética que é composta pelas empresas de distribuição, transmissão e geração de energia elétrica”, destaca José. “Ou seja, consumindo menos, podemos reduzir a produção energética e assim reduzir a emissão de poluição e gases de efeito estufa que causam o aquecimento global; nas usinas de energia que utilizam combustíveis fósseis; e por aí vai”.
Em qual horário a conta de luz fica mais barata?
Para falar sobre horário em que a conta de luz é mais barata, é necessário trazer para a conversa a tarifa branca. Dentre os modelos de tarifa existentes, ela merece destaque pois é uma modalidade de cobrança em que o preço do kWh varia de acordo com o horário de consumo — e fica mais barata se a energia é consumida em horários de menos pico energético. Ela foi criada para incentivar o uso consciente da energia, deslocando parte do consumo para os horários em que a rede elétrica é menos demandada.
Dentro da tarifa branca, o dia é dividido em três partes:
- Horário de ponta: É quando o consumo de energia é mais alto, geralmente no início da noite (por exemplo, das 18h às 21h). A tarifa é mais cara neste período;
- Horário intermediário: É um período de transição, com tarifa um pouco menor que no horário de ponta;
- Horário fora de ponta: É quando o consumo na rede é menor, como à noite e de madrugada. A tarifa é mais barata nesse período.
Por causa disso, o professor José destaca que, dentro das residências enquadradas neste tipo de tarifa, consumir energia fora dos horários de pico pode trazer uma maior economia:
“Na tarifa branca, a energia é maior no chamado horário de ponta. Por isso, consumir energia uma hora antes do horário de ponta ou uma hora depois pode trazer uma economia de energia vantajosa no orçamento. Assim, o consumidor desloca seu consumo para ter vantagens ao utilizar a tarifa branca”.
A tarifa branca é opcional, e está disponível para clientes do grupo B (baixa tensão), como residências (casas ou apartamentos); pequenos comércios; pequenas indústrias e produtores rurais. Apesar disso, nem sempre ela é recomendada, já que altera o preço da conta de luz de acordo com o consumo energético do cliente e, por causa disso, pode tornar mais cara a conta de luz de quem só puder fazer o consumo principal de energia (lavar roupa, fazer faxina, lavar louça, etc.) no horário de ponta. Por isso, ela pode ser uma boa opção para a sua casa se:
- Você fica fora de casa no período da noite (18h às 21h) e, por consequência, não acontece o consumo de energia nesse período;
- Você consegue programar eletrodomésticos (máquina de lavar, secadora, etc.) para funcionarem de madrugada ou no início da tarde (horários fora de ponta);
- Você possui uma rotina flexível e controlada (por exemplo, se mora sozinho, não possui filhos, etc.);
- Você e sua família tem o consumo energético diluído ao longo do dia, e não concentrado no fim da tarde e noite;
- Você possui um comércio que funciona em horário comercial (até às 18h).
Se você se interessou pela tarifa branca e deseja aderir na sua casa, você precisa:
- Verificar sua elegibilidade: Desde 2020, não existe um consumo mínimo exigido para optar por essa modalidade. Entretanto, clientes classificados como Baixa Renda, beneficiários de descontos previstos em lei ou que utilizam iluminação pública não podem aderir à Tarifa Branca;
- Analisar o seu perfil de consumo, com base nas dicas que mencionamos anteriormente;
- Solicitar a adesão. Para isso, você deve entrar em contato com a distribuidora de energia elétrica que atende sua região. A solicitação pode ser feita presencialmente em uma loja de atendimento, pelo call center ou, em alguns casos, pelo site da distribuidora;
- Instalar o medidor. Caso você faça a solicitação da troca do medidor e ela seja aprovada, a própria companhia de energia deve enviar um profissional para realizar a instalação do novo medidor sem custo e em até 30 dias após a solicitação;
- Acompanhar o consumo de energia da sua casa, para ter certeza que essa tarifa está melhorando o valor da conta de luz no fim do mês.
Caso a sua rotina não se encaixe nestes requisitos, ainda assim existem hábitos diários que podem economizar energia em casa e baratear a conta de luz — mesmo que ela esteja na tarifa tradicional.
Quais hábitos de consumo podem trazer economia de energia?
Segundo o professor José, esses são os hábitos do seu dia a dia que podem te trazer uma maior economia de energia:
- Desligar luzes quando sair dos locais onde não tem mais ninguém;
- Acumular roupa para lavar, secar e passar,
- Não ficar abrindo a geladeira toda hora;
- Reduzir o tempo de banho (molhar o corpo, desligar o chuveiro para ensaboar e ligar para molhar para retirar o sabão).
“Essas são ações de custo zero”, destaca José. “Utilizando a energia só quando necessário pode trazer uma grande economia. A energia elétrica é um bem importante para a humanidade e deve ser utilizada de forma racional, eficiente e pensando na conservação do que temos disponível, principalmente aquelas que são não renováveis”.
A PROTESTE é a maior associação de defesa do consumidor da América Latina e, como parte de seu propósito, está sempre atenta às necessidades do mercado brasileiro. Recentemente, lançamos a campanha Já Reparou?, que visa garantir aos consumidores o Direito de Reparo de seus produtos eletrônicos de forma acessível. A iniciativa busca combater práticas de alguns fabricantes que limitam o reparo de aparelhos ao bloquear o uso de componentes que não sejam originais ou instalados por oficinas credenciadas.
Você pode participar dessa ação e colaborar com essa conquista – acesse o site jareparou.com.br, assine e garanta esse direito. Essa vitória, entre outras coisas, amplia a aquisição de peças e manuais, reduzindo o custo de consertos para o consumidor e incentivando a sustentabilidade.