Bets: 42% dos brasileiros que apostam estão endividados; veja dados e como superar o vício

Bets: 42% dos brasileiros que apostam estão endividados; veja dados e como superar o vício

O levantamento do DataSenado apontou que 20,3 milhões de pessoas com mais de 16 anos já apostaram nas chamadas “bets”

Uma pesquisa divulgada no dia 1° de outubro deste ano pelo Instituto DataSenado aponta que 42% dos brasileiros que dizem ter gastado alguma quantia em apostas esportivas ao longo de um mês, estavam endividados. Segundo o estudo, o percentual diz respeito aos apostadores com contas atrasadas há mais de 90 dias.

Ao todo, o levantamento aponta que cerca de 20,3 milhões de pessoas com mais de 16 anos já apostaram nas chamadas “bets“, o número equivale a 13% da população do país com essa faixa etária.

Mas, afinal, por que tantos brasileiros entram nessas casas de aposta? Além da intenção recreativa, de ser apenas mais um jogo para brincar e entreter, muitos enxergam essas apostas como investimento. De acordo com uma pesquisa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), realizada em 2023, 22% dos apostadores veem as apostas como uma forma de investimento financeiro.

Para Myrian Lund, planejadora financeira pessoal, autora dos livros Análise Econômico-Financeira, Mercado de Capitais e Liderança e Motivação da série FGV Management e professora de MBAs da FGV, esse é justamente um dos perigos do crescimento das “bets”: enxergá-las como um investimento. “Jogos nunca são investimentos. Todo investimento tem uma regulação, um registro e uma custódia. Isso é aposta, e aposta nunca foi investimento”, afirma.

A ilusão da possibilidade de ganhar dinheiro fácil é o que atrai boa parte das pessoas que já apostaram ao menos uma vez. Myrian alerta, no entanto, que na maioria das vezes, não se passa de uma ilusão. “Em nenhum momento essa brincadeira torna-se de fato rentável. As configurações impedem que a pessoa ganhe sistematicamente”, aponta.

E, sabendo que ganhar dinheiro nessas casas é uma missão (quase) impossível, nos resta mais uma questão: por que as pessoas seguem apostando e caindo na ‘tentação’, mesmo sabendo que provavelmente vão mais perder do que ganhar. Para Raquel Junqueira, psicanalista multidisciplinar licenciada em Educação Artística, Pedagogia, com pós-graduação em Neuropsicopedagogia, MBA em Gestão de Sistema de Qualidade, a resposta está simplesmente na natureza humana.

“Essa busca por jogos de azar, que aparentemente sugere ser irracional, está relacionada à natureza humana, com estímulos que chegam ao cérebro quando há risco e recompensa. Com a psicanálise podemos compreender que em vez de focar apenas nos comportamentos visíveis, é preciso investigar os impulsos inconscientes que levam uma pessoa a desenvolver e manter um comportamento compulsivo, de vício. Para algumas pessoas, o jogo pode representar um desejo de escapar da realidade, uma forma de lidar com sentimentos reprimidos, ou até mesmo uma maneira de autopunição inconsciente”, explica.

Bets: 42% dos brasileiros que apostam estão endividados; veja dados e como superar o vício

Jogos de apostas em bets não podem ser vistos como investimento (Foto: Freepik)

Coçar e apostar: é só começar

Hoje em dia, dados apontam que existem mais brasileiros apostando em bets do que investindo em mercado financeiro. A informação é de uma  pesquisa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima). Mesmo não sendo fatores comparativos, uma vez que, como reforçado, bets não são investimento, os números são impressionantes. E, se somarmos esse dado ao fato de que muitas pessoas que entram nesses jogos acabam se endividando, podemos entender que boa parte das pessoas não ficam apenas na primeira aposta, mas sim, continuam apostando para tentarem conseguir o dinheiro prometido.

Raquel Junqueira aponta que a tendência de seguir apostando, mesmo acumulando dívidas para isso, pode ser explicada pela lógica do vício. “Esse comportamento de manter o vício, mesmo já tendo prejuízo financeiro, está associado a mecanismos psicológicos e neuroquímicos, o que indica que não há uma reflexão lógica e prática sobre essa decisão. A pessoa apenas segue fazendo isso, de maneira automática”, reflete.

Além dos padrões repetitivos psicologicamente falando, Myrian Lund adiciona, ainda, a esperança como um motivo para seguir apostando, mesmo com dívidas. “Temos vários estudos sobre Finanças Comportamentais, que explicam os vieses comportamentais: ilusão de controle (acha que vai parar a hora que quiser, que vai conseguir aprender uma forma de ganhar), excesso de confiança (com ele vai ser diferente)”, conta.

É possível apostar com segurança?

Mesmo com o alto risco de vício, ainda é possível usar essas plataformas de apostas apenas como uma brincadeira, vez ou outra. O primeiro ponto para fazer isso é entender que não se passa de um jogo e que você provavelmente vai perder dinheiro, em vez de ganhar. Myrian Lund reforça a importância de estabelecer limites para conseguir jogar com uma margem de segurança.

“Pode jogar como brincadeira, como você joga em um cassino, apenas separando um dinheiro para brincar. Eu mesma estou em obras em casa e um prestador de serviço me contou que joga de vez em quando, colocando apenas R$5 ou R$10 quando dão um crédito para ele. Mas entra apenas de vez em quando, como brincadeira. Encarando como uma brincadeira, tudo bem”, reforça.

Ela reforça a importância de ter uma educação financeira para não ir além do devido e não correr riscos de cair em dívidas. A professora explica que o estudo de finanças comportamentais encara que todo ser-humano tem dois sistemas para tomadas de decisões: o emocional e o racional.

“Normalmente as decisões são tomadas pelo sistema emocional. Para acionar o sistema racional é necessário tempo e paciência. Não fazer na hora, olhar na planilha o impacto que pode ter a falta daquele dinheiro. A educação financeira ajuda você a entender o funcionamento dos dois sistemas e como as lojas e as mídias utilizam esses conceitos, atraindo as pessoas para armadilhas. Com o estudo, fica mais fácil evitar. Imune você não fica totalmente, mas já sabe identificar o que é fraude, o que é mentira, do que é verdadeiro”, orienta.

‘Bets’ e o perigo do vício

Quando falamos nos cuidados necessários ao optar por entrar nas famosas ‘bets’, quase sempre esbarramos em maneiras de evitar um mal-comum: o vício por esses jogos. Raquel Junqueira explica que essa relação viciosa vem de questões mais complexas, que vão além do simples jogo por si só, apesar de ser um grande gatilho.

“Embora o início do hábito de jogar possa começar de várias formas, como curiosidade, desafio de amigos, experimentação, entre outros, a compulsividade vai se manifestar em pessoas que tenham maior predisposição e que tenham alguma questão subjacente e, assim, esse vício trará prazer imediato. Assim, a pessoa viciada poderá evitar ou suprimir sentimentos desagradáveis, como tristeza, raiva ou frustração. A prática de jogar pode ser uma tentativa de preencher um vazio emocional ou lidar com questões como depressão e ansiedade”, reforça.

“Para explicar um pouquinho melhor: o superego, a parte da psique que lida com a moralidade e a crítica interna, pode desempenhar um papel importante no vício. Um jogador compulsivo pode sentir uma forte culpa após as apostas, o que perpetua um ciclo de autopunição. Ele se sente mal pela culpa, busca o jogo para ter alívio das sensações e se funda ainda mais. É um ciclo que precisa ser explicado e elucidado na terapia para que a pessoa vença e encerre o vício”, completa.

Ela reforça que, independente das causas que levaram a pessoa a entrar nas casas de apostas o que transformaram-na em um viciado nos jogos, sempre há uma solução e o primeiro passo é identificar que chegou em um nível preocupante para, a partir daí, pedir ajuda.

Vício em bets: omo buscar ajuda

Se você ou pessoas que você conheça esteja enfrentando problemas com vícios, seja ele em apostas ou qualquer outro, não exite em buscar ajuda. A profissional listou algumas formas para conseguir quebrar o ciclo:

  1. Ouça pessoas que te amam: quem está de fora, observando seu comportamento, poderá ter um papel essencial para que o vício seja percebido por você. Ainda que seja difícil, busque ouvir pessoas queridas;
  2. Busque ajuda profissional: o endividamento causado por jogos de apostas é frequentemente resultado de uma combinação de impulsividade, ilusão de controle e distorções cognitivas. Não é algo simples, não é falta de vergonha na cara,é uma dependência. Por isso, esse vício precisa ser encarado como um problema que requer ajuda profissional: psicanalistas, psicólogos (com a terapia cognitivo-comportamental), grupos de apoio para compartilhar experiências e anseios.
  3. Fuja dos gatilhos para as apostas: desinstalar aplicativos de jogos e evitar ler e assistir conteúdos sobre o assunto é um passo importante. Além disso, busque ocupar a mente com outras formas de lazer e prazer, substituindo o tempo que antes dedicava ao vício, por essa nova atividade.

Já reparou? 

A PROTESTE é a maior associação de defesa do consumidor da América Latina e, como parte de seu propósito, está sempre atenta às necessidades do mercado brasileiro. Recentemente, lançamos a campanha Já Reparou?, que visa garantir aos consumidores o Direito de Reparo de seus produtos eletrônicos de forma acessível.

A iniciativa busca combater práticas de alguns fabricantes que limitam o reparo de aparelhos ao bloquear o uso de componentes que não sejam originais ou instalados por oficinas credenciadas. Você pode participar dessa ação e colaborar com essa conquista – acesse o site jareparou.com.br, assine e garanta esse direito. Essa vitória, entre outras coisas, amplia a aquisição de peças e manuais, reduzindo o custo de consertos para o consumidor e incentivando a sustenabilidade.